NOTÍCIAS

Entrevista com Gracionice Correa, presidente da Cooperativa Manejaí

1 de novembro de 2023

A Cooperativa Manejaí é presidida por Gracionice Costa da Silva Correa, uma mulher marajoara que tem feito a diferença na cadeia do açaí. A organização está situada no município de Portel, no Pará, e tem como principal objetivo fomentar a produção sustentável e a comercialização justa do açaí, uma fruta que é um dos principais produtos da biodiversidade amazônica.

A cooperativa reúne produtores locais de açaí, promovendo práticas de manejo sustentável e valorizando o trabalho dos extrativistas. Por meio da união dos produtores, a Manejaí busca fortalecer a cadeia produtiva do açaí, assegurando melhores condições de trabalho, preços justos e acesso a mercados mais amplos.

Sob a liderança de Gracionice Costa da Silva Correa, a cooperativa não só estimula práticas agrícolas responsáveis, mas também trabalha para empoderar as comunidades locais, promovendo a educação ambiental e a valorização da cultura amazônica. A Manejaí se destaca por sua atuação na defesa dos direitos dos produtores e na promoção da igualdade de gênero, buscando garantir que mulheres e homens tenham as mesmas oportunidades dentro da organização.

A localização da cooperativa, no município de Portel, uma região rica em biodiversidade, coloca-a em uma posição estratégica para a promoção do desenvolvimento sustentável. A região é conhecida pela produção de açaí, e a Manejaí desempenha um papel crucial na preservação da floresta e no uso responsável dos seus recursos.

A Cooperativa Manejaí também investe em tecnologias e técnicas que visam melhorar a qualidade do açaí produzido, bem como aumentar a eficiência dos processos de produção e comercialização. Isso não só beneficia os produtores associados, mas também contribui para elevar os padrões de qualidade do açaí produzido na região como um todo.

Em resumo, a Cooperativa Manejaí, liderada por Gracionice Costa da Silva Correa, é um exemplo de como a organização coletiva dos produtores pode levar a uma produção mais sustentável e justa, beneficiando tanto as comunidades locais quanto o meio ambiente, e contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região amazônica. Veja a entrevista que ela concedeu ao Boletim Diálogos Pró-Açaí:

DPA: Se apresente e nos conte qual o contexto do seu trabalho na cadeia do açaí?

Eu sou Gracionice Costa da Silva Correia, mas muitos me conhecem como "Graça do Sindicato", um apelido que adquiri durante meus mais de 16 anos como diretora sindical. Sou da comunidade Monte Hermom, situada no município de Portel, no arquipélago do Marajó. A comunidade fica a uma distância que pode variar entre 8 a 12 horas de barco da sede do município, dependendo da velocidade do motor. Se optarmos por lancha, o trajeto leva de 2 a 3 horas, também dependendo da potência do motor. Nossa comunidade está localizada no Rio Pacajá, próximo ao Igarapé Arata, que é um afluente do próprio Rio Pacajá.

Atualmente, ocupo o cargo de presidente da cooperativa Manejaí, que tem sua sede na cidade do município. Em uma colaboração com o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Portel, o sindicato gentilmente disponibilizou um espaço para a cooperativa, enquanto ainda não temos um local próprio. Além disso, também presido a Associação dos Trabalhadores Extrativistas do Alto Pacajá (TAP), que fica em Monte Hermom, no Rio Arata. Esta associação está situada dentro do assentamento Coletivo Deus é Fiel. Dada a extensão do município de Portel, enfrentamos desafios significativos para atender a todas as comunidades. Como comunitários, trabalhamos para superar obstáculos, buscando a inclusão social de outras comunidades.

DPA: Como surgiu a cooperativa e quais foram os objetivos de sua criação?

A cooperativa surgiu como resposta a demandas crescentes. Somos um movimento social organizado, formado por uma rede de associações e sindicatos, atuando dentro das comunidades dos assentamentos no território de Portel. Com a regularização da terra e a adoção de tecnologias voltadas para a conservação ambiental e a preservação da biodiversidade, percebemos a necessidade de assistência técnica e de implementação de novas tecnologias para o uso sustentável dos recursos naturais.

Nesse contexto, buscamos um parceiro adequado para nos auxiliar, e encontramos na Embrapa um aliado valioso, oferecendo assistência técnica e capacitações tecnológicas voltadas à sustentabilidade, principalmente nos açaizais, com o projeto Bem Diverso - Sustenta e Inova. 

DPA: O que representa a cadeia do açaí para os moradores da região e como vocês atuam para estruturá-la?

O açaí é um alimento fundamental em nossa dieta e tem grande relevância no mercado. Diante da crescente demanda, vimos a necessidade de melhorar as unidades produtivas, aumentando a produção e garantindo uma oferta de qualidade. Em nosso projeto, focamos na capacitação dos comunitários extrativistas. Estabelecemos comunidades, ou "raios", como chamamos, com pontos focais que atuam como agentes facilitadores do manejo. Esses técnicos capacitados, juntamente com alguns comunitários, possuem um conhecimento profundo - seja ele tradicional ou empírico - e são capazes de gerenciar as unidades, mantendo o equilíbrio e o manejo adequado. Com uma produção organizada e produtores preparados, o desafio era inserir essa produção no mercado de forma estruturada e dentro dos padrões de qualidade, não apenas para comercialização, mas também para nosso próprio consumo. Ao longo de anos de discussão, entendemos que, enquanto cooperativa e associações, somos capazes de gerenciar vastos territórios com responsabilidade e eficiência.

DPA: Quais são os desafios atuais relacionados à igualdade e direitos? 

São vários desafios que enfrentamos, incluindo diversos entraves. Sofremos violência, seja verbal, sentimental ou psicológica. Uma das maiores violências é a violação dos nossos direitos, especialmente quando tentam nos tirar o território ou quando nos veem como incapazes de gerenciar unidades de produção ou finanças. Há também desafios na política, onde enfrentamos julgamentos e subjugamentos, especialmente em espaços políticos governamentais ou legislativos.

DPA: Como vocês têm combatido a desigualdade e os desafios enfrentados?

Nós, como cooperativa, trabalhamos na capacitação das lideranças comunitárias, tanto mulheres quanto jovens. Focamos na formação continuada e buscamos certificações para legitimar nossos produtos e processos. O envolvimento da comunidade, incluindo a juventude, é essencial. Também valorizamos o conhecimento tradicional dos idosos, pois ele soma ao desenvolvimento quando aprimorado ou colocado em prática.

Pergunta: Como vocês garantem a origem e qualidade do açaí? Resposta: A cooperativa monitora a produção através de um processo com a Embrapa, que desenvolve tecnologias de monitoramento. Utilizamos GPS e aplicativos para rastrear a origem do produto e garantir sua qualidade. Isso nos ajuda a garantir que o açaí seja produzido de forma sustentável e justa.

DPA: Como a cooperativa tem trabalhado para combater práticas não sustentáveis na produção do açaí? 

Utilizamos o método de manejo de mínimo impacto, que foca na observação e estudo ambiental. O objetivo é produzir açaí de boa qualidade sem causar danos ao meio ambiente. Também realizamos capacitações e estabelecemos unidades demonstrativas para servir como exemplos para outros produtores.

DPA: Quais são as necessidades financeiras para garantir a produção sustentável do açaí? 

Necessitamos de investimento para adequar nossos espaços de acordo com as normas da vigilância sanitária e para obter certificações que legitimem nosso produto. Além disso, buscamos continuar com a formação continuada e investir em tecnologias que auxiliem no monitoramento e garantia da qualidade do açaí.

DPA: Como a cooperativa tem fomentado o acesso a financiamentos para os produtores?

A cooperativa auxilia as famílias a acessar o PRONAF através de ativadores de crédito. Temos parcerias com o instituto Conexus e o Banco da Amazônia. Embora haja diferentes opções de financiamento, o PRONAF B é o mais acessado devido ao seu perfil menos burocrático.